16 de dezembro de 2010

Beto Bellinati | Dramaturgia 

Escrever para teatro não precisa ser um ato solitário. Talvez, nem deva. O fato é, que, ao ser convidado para participar do processo de criação de um espetáculo que pesquisaria o universo marginal das pombas giras, encontrei parceiros, artistas, atores, diretores e dramaturgos. Até então, nunca havia pisado num terreiro ou num puteiro; conheci-os durante a jornada. Não podia, portanto, escrever sobre algo que me era estranho. Poucas palavras saíram daqui de dentro.
Os atores – guerreiros maiores dessa empreitada – alimentaram-me e eu, tão somente, descrevi o que vi. Barba Azul desenhou-se assim. Mari e Su foram muito assim. Amapola foi só assim. Não sou Sófocles, Shakespeare, Brecht, Boal ou Beckett – e nem sei qual o grau de contribuição que eventuais parceiros poderiam ter nas obras desses autores.
Também não pretendo imitá-los em suas formas, posto que o meu tempo é este. Não escrevi Aruê!; colaborei sensivelmente com um grupo de amigos/colegas/companheiros/artistas, que gostariam de escrever uma história para inscrever-se na história. Sentasse eu em meu gabinete e não me disporia a escrever uma história sobre pombas giras. Fiz porque fui convocado por ânsias maiores – e, portanto, de maior interesse público – que as minhas próprias.
Tal foi a função do dramaturgo em Aruê!: disponibilizar algumas ferramentas para inteligências atuantes, a fim de construir uma obra que ele não é capaz – jamais, em tempo algum – de construir sozinho. O ser humano é limitado. O Teatro, talvez, não.



 

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